Na minha adolescência, ninguém que eu conhecia entendia inglês. Por mais que a gente fizesse cursinho, era muito difícil encontrar alguém que falasse uma língua estrangeira. E na época a gente gostava muito das músicas em inglês.
Sem entender nadinha, "cantávamos" o som das palavras, sem a menor idéia do significado. Isso não incomodava nem um pouco. Importava o balanço, a melodia, as rimas inventadas. Aliás, como se inventava rimas ruins...a música "Cuba" do Gibson Brothers - 1979, tinha o refrão "Cuba quiero bailar la salsa" virou "cuba, seu irmão cag# nas calças", uma outra virou "seu c* só sai de ré", .. imagina eu que nunca gostei de palavrões.
Outro problema: como a gente não entendia nada, ficava apaixonada pelas melodias melosas, achando que eram românticas, quando na verdade estavam mais para gospel: "Jesus is love", "He Ain't Heavy, He's My Brother", "Ships"... nessa então, Barry Manilow fala do pai, de cachorros, e dançando de rosto colado, a gente imaginava romance na letra. Não existia malícia, não havia maldade. Mesmo quando James Brown cantava "Get on up and then shake your money maker" (algo como sobe em cima e balance o seu traseiro) a gente só queria seguir a coreografia. E ninguém imaginaria que Freddie Mercury era homossexual, com aquele corpo másculo. Ninguém achava Village People caricatura gay. Acho que eram tempos mais leves. A inocência perdida não tem volta.
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