Aproveito o tema do halloween para contar uma história antiga.
Meu pai é massagista, desde o tempo que não existia fisioterapeuta. Ele desentortou muita coluna alheia, curou inúmeros torcicolos, e tratava dores que as pessoas nem sabiam como tinham começado. Ele tinha um consultório na Rua Quintino Bocaiuva, centro de S.Paulo, que adquiriu da família do antigo dono, outro massagista, que segundo consta, morreu de ataque do coração, assistindo TV em casa.
Para meu pai foi ótimo negócio: tinha sala de espera, telefone (na época uma raridade), toda a mobilia e os equipamentos auxiliares do tratamento fisioterápico. Cheguei a ir lá muitas vezes, aos sábados, para ajudar na faxina.
Prédio antigo, cinco andares, tudo com cara de muito velho, já nos idos de 1975.
Acontece que na sala de espera, sem recepcionista, tinha uma campainha para quem entrava e precisava avisar sua presença para ser atendido. E essa campainha deu para tocar sozinha. No começo, meu pai achou que era brincadeira de alguém do andar, que apertava o interruptor da campainha e saía da sala antes dele abrir a porta da sala de massagem. Ele ia até o corredor e não via ninguém. Isso aconteceu várias vezes. Com o tempo ele foi conhecendo seus vizinhos de andar e percebeu que ninguém ali tinha perfil para fazer esse tipo de brincadeira.
A campainha tocava sozinha quase todos os dias. Ele chegou a desligar os fios do interruptor, e pasmem: ela continuou tocando. Fui testemunha e morri de medo. Mas ela só tocava quando não havia ninguém mesmo na sala de espera. Meu pai concluiu que "o cliente fantasma" era o antigo dono do consultório e passou a fazer orações pela sua alma sempre que tocava a campainha assombrada. Minha mãe acreditava nisso também. Aliás, acreditam nisso até hoje. Depois de alguns anos, em 1981, meu pai se desfez do consultório e não sabemos se a campainha continua tocando.
E eu, assustada desde criança, ainda acordo às vezes na madrugada, com a nítida impressão que alguém tocou a campainha lá de casa.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
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